A maioria das pessoas LGBTs não está nas Instituições de
Ensino Superior, por diversos fatores que podem ser considerados sintomas
sociais e não problemas individuais. Sintomas e problemas esses que
inviabilizam a entrada e a permanência nas universidades e faculdades. Ainda
que não seja a maioria, quem está na vida acadêmica produz a cerca das questões
da comunidade LGBT e disputa os espaços para que essa produção não seja vista
apenas por LGBTs?
Nos espaços e encontros onde estão presentes membros do
movimento estudantil LGBT a preocupação está voltada para o governo, seja no
que se refere à educação, a saúde, politicas publicas e projetos de leis e
pouco se ouve sobre a produção acadêmica desta militância referente à sua
própria comunidade. Não há duvidas de que é através do governo que vamos
continuar garantindo os direitos das pessoas LGBT, contudo se faz necessário o
protagonismo de LGBTs dentro das Instituições de Ensino Superior demarcando e
produzindo para que as questões LGBT sejam postas e apresentadas a quem não as
vivenciam e que ao conhecer será enriquecedor à sua formação. Sendo assim, ao
mesmo passo que é legitima a preocupação voltada ao governo, há possibilidade
de produção por parte das pessoas LGBTs.
A proposta também não é desqualificar a militância de
ninguém ou grupo ou coletivo, a proposta é proporcionar uma reflexão sobre
essas militâncias enquanto individual e coletiva, pois se o processo de
construção por uma nova cultura politica às pessoas LGBT foi iniciado, ele
precisa ser continuado, individualmente e principalmente coletivamente, dentro
e fora das instituições de ensino, já que ser universitário é isso: fazer o
dialogo entre a academia e a sociedade.
É compreensível que as matrizes curriculares não
proporcionam muitos espaços para que a comunidade LGBT seja pautada, o que
dificulta uma ampla produção sobre a temática durante a formação e a ausência
de referências teóricos contextualizados a sociedade brasileira. Contudo é
dever da militância romper as grades, lutar por mais espaço e principalmente
fazer articulações para que suas pautas sejam inseridas nas disciplinas, nos
projetos de pesquisa e na extensão.
A militância LGBT universitária ocupa espaços de
representação e também de sala de aula, em diferentes cursos. Durante a
formação oportunidades precisam ser criadas para falar sobre as questões LGBT,
seja na apresentação de seminário, construção de oficina, construção de artigo,
debates em sala, pois a sala de aula também é espaço de militância e de
disputa. Não são todas as pessoas presentes em sala que sabem sobre a realidade
das pessoas LGBTs e elas precisam conhecer, seja para ter uma atuação
profissional mais qualificada ou para conviver em sociedade.
Não pode esperar que as pessoas que não são LGBT entrem
nas universidades/faculdades e disputem os espaços em nome da comunidade, pois
fazer isso é o papel desta militância. Ocupar os espaços do ensino, da pesquisa
e da extensão; produzir e divulgar as demandas a cerca da temática é dever.
Pois, o empoderamento LGBT depende dessas ações para que pessoas LGBTs sejam
referências nas suas pautas e espelho, motivadores e incentivadores para que
mais LGBTs entrem nas instituições de ensino e, os que já estão, ocupem os
espaços que lhes são de direito.
Não adianta o movimento LGBT ficar o tempo todo falando
para si mesmo sobre suas demandas, precisa apresentá-las a quem não as
vivenciam. As LGBTfobias não serão combatidas se heterossexuais não
compreenderem que podem ser alvo de homofobia ou bifobia se forem identificados
enquanto homossexuais ou bissexuais. As pessoas cisgêneros precisam saber que
se forem identificadas enquanto transexuais, transgêneros ou travestis, elas
vão ser oprimidas (violentadas, agredidas) através da transfobia. Espaços auto
organizados precisam ser feitos e respeitados, contudo espaços abertos precisam
acontecer para politizar, informar e proporcionar conhecimento a quem não conhece
as demandas e dificuldades da comunidade LGBT.
Toda essa exposição se faz necessária e, não é segredo
para ninguém que os movimentos sociais precisam se mostrar para serem vistos,
seja através de atos, paradas, manifestações, twittaço e de produções textuais,
artísticas, acadêmicas e culturais, que também são formas de se organizar e
podem estar unidas. O movimento LGBT tem formas próprias de se manifestar, além
das citadas a cima, tem o beijaço, Universidade Fora do Armário (UFA),
fechações, performances, dentre outras ações.
A militância LGBT já identificou e identifica muitos
inimigos dentro da sociedade e da universidade, e precisam compreender que as
brigas egóicas que acontecem entre coletivos e grupos só fragiliza o movimento.
A militância precisa se unir para tornar a universidade mais diversa e plural,
produzindo mais academicamente, provocando as direções das instituições de
ensino para que as graduações contemplem as questões LGBT nas matrizes
curriculares, para que existam mais pesquisas voltadas para a realidade das
pessoas LGBT e para que a extensão abarque a comunidade, pois acadêmica sem
movimento social é puro academicismo.
Por Iana Aguiar
Por Iana Aguiar